quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A Ilha


Quase um ano. Aquele lugar pequeno, desconhecido, frio. Aquelas poucas pessoas estranhas, introvertidas, com um ar de desespero. Não podíamos beber, nem comer. A princípio era assim que eu via o pequeno espaço cercado de coisas estranhas que nos isolavam do resto do mundo.

Nosso número era 4. Cada dia que passava nos tornávamos mais e mais escravos daquele lugar. Por muitas vezes lutamos para estar lá e queríamos fugir, mas não podíamos. Era preciso estar ali, muito dependia da nossa força de vontade. Era preciso aguentar. Sabíamos das dificuldades, conhecíamos a nossa sentença: um ano, que valia por quatro.

Só não tínhamos ideia do que estava para acontecer. Nossas vidas se transformaram, quase que do dia para a noite. E foram muitas noites, até o último minuto. Não me lembro bem em qual momento houve a reviravolta que mudaria nossa "estadia", mas ela aconteceu de forma rápida e violenta. Quando menos percebemos, estávamos encantados pela ilha.

Foram eles. Aqueles dois "nativos", um grande e calado, outro menor e inquieto. Eram opostos, e formavam uma dupla estranha e harmoniosa. No começo, nada mais eram do que outros escravos do lugar. Mas com o tempo se transformaram em confidentes nossos. Nos deixavam beber e comer, e falar e viver. Graças a eles, aquela ilhota passou de Ilha Perdida para Fernando de Noronha.

Viramos um grupo. Nós quatro - eu com ela, eu sem ela, nós por cima, nós por baixo - fazíamos NADA juntos e era a coisa mais legal do universo. Ninguém botava uma fé, mas transformamos aquele lugar em um ambiente no qual era fascinante passar um dia. E ficávamos até a escuridão da noite chegar. Às vezes nos víamos em dias incomuns e era pura alegria! A ilha era nossa casa, e eles uma família que supria a saudade de outra, com quem passávamos bem menos tempo.

Mas a ilha não era sombria sem motivos. Há sempre um vilão. Ou vilões (desculpa, Brasil!). E foi só notar a liberdade dentro daquele lugar fechado e isolado, que os amargurados ficaram alertas. Nós cumprimos nosso tempo, e eles, os grandes amigos que a ilha nos deu, foram expulsos. Motivo? Faziam dela um lugar bom, e em lugar que tem alegria, não pode ter trabalho. Mas tudo foi superado, e vimos que há vida depois da ilha. Ainda estamos nos acostumando, mas vamos deixa-lá pra trás. Seremos gratos a ela por ter nos unido, mas vamos ser companheiros além dela.

Eu agradeço a ilha, e a eles. Não seria fácil de outro jeito.

E pobres dos vilões, mal sabem que há ilhas que, em algum momento, são engolidas pelo mar.

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