segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Fugaz


Era uma vez um rapaz que curtia aparecer, e uma garota que vivia escondida. Ele era assim, meio Flea, enquanto ela assado, um tanto Marisa, às vezes Mamonas - juntos, eram Molejo. Um dia o acaso - de caso pensado - os apresentou. O palco do romance era um ônibus azul, conforto pra ela, sacrifício pra ele, e vice-versa, dependendo do dia. Ele não foi o centro das atenções dela, e isso instigou. Já ela, "sei lá", ela tinha vergonha de pensar, olhar nos olhos. Sabe essas bobagens? Medo de coisa boa. Pra falar a verdade, os dois meio que se amavam, desde aquele primeiro contato estranho e embaraçoso (pra ela). Ele sem cueca - e de guitarra -, ela com vergonha - e curiosa.

Ele era Valente, ela se achava durona. Conversavam sobre nada, e acabaram se conhecendo demais. Mas nunca é demais. Ela ria de tudo, e ele dela. Ele fazia a comida, ela derrubava os pratos no chão. Era um relacionamento torto, meio desengonçado, nada muito próximo de Eduardo e Mônica, mas também longe de Romeu e Julieta. Pra ela, ele era apaixonado demais por tudo, tipo 'doente'. Cinéfilo, sabia dançar e falava demais, via filmes demais, agia demais - ele era demais! Pra ele, ela era meio boba, falava de menos, pensava demais, mas fazia boa massagem, boas piadas e tinha paciência pra ouvir, era pra casar - se pudesse, tinha casado. Ele era pega-pega, e ela esconde-esconde.

Ele era o caipira, e ela o bicho-do-mato. Viviam em um mundo particular, o único que existia quando estavam juntos - a vida inteira em um apartamento. Foi um dia de chuva no ponto de ônibus, um carnaval inteiro, fugas na madrugada, mil serenatas na janela. Qualquer acorde fazia o coração dela bater mais forte, e era só a luz se acender naquela janela, do outro lado da rua, que ele ficava a postos. Tudo rápido, na velocidade da luz. Assim veio a parte boa, e também a separação. "Mas isso a gente supera. Daqui eu pouco eu tô de volta", e era ela que ficaria para se despedir. Não era guerra, mas a dor da partida é imensurável.

"Daqui a pouco eu tô de volta" foi o que ele disse quando voltou, pra ficar só mais um pouquinho, por conta do velho amigo dos dois: o acaso. 20 horas, dois charutos, muita graça, muito hormônio. Realmente, há males que vem para o bem! E para o bem, lá se foi ele mais uma vez. Mas voltaria logo para vê-la, mandava notícias de uma terra estranha. E ela? Ah, ela esperava, crente no retorno, dessa vez era destino ele voltar, e não acaso. Mas não foi assim. Mil mensagens, mil "alôs", "tchaus", "beijos" e até mesmo um ou dois "eu te amo" - esses últimos tímidos, mas verdadeiros. O tempo passava como havia de passar. Ele só pensava nela, ela não fazia coisa outra. Ela olhava pela janela, esperançosa.

O velho amigo agiu, mas dessa vez, com sensatez - foi o que disseram pra ela. Não era pra ser assim, mas assim que teve de ser. Ele não olha mais fotos pra lembrar - tem uma vista privilegiada. E ela continua a fitar a  janela, e uma vez ou outra ensaia olhar pro céu - ainda tímida, com aquele mesmo medo de encarar. Às vezes, ela é pega de surpresa ao ouvir alguns acordes, mas é pura imaginação. Hoje ela ainda é meio boba, continua falando de menos, faz menos massagem, mas vê mais filmes e continua sendo pra casar - mas agora tem que ser com outro. Não se sente mais tão compreendida, e um pouco solitária -  mas é feliz, se sente privilegiada. Confia no acaso - esse nunca falhou - e sabe que tão logo eles se encontram. Como tudo mais, o que for ruim vai ser fugaz - e o que é bom fica. Sempre fica..

"Isso dava um filme..."

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Deusa, louca, feiticeira

Luis, hoje é sexta-feira e eu quero ter um bom papo! Deixo a pinga e a petiscagem pra mais tarde, pois ainda estamos em horário comercial.

Quem nunca viu "Os Normais" não sabe o que está perdendo. De verdade, depois de Sai de Baixo (até a 3ª temporada, mais ou menos), esse é o melhor seriado humorístico da televisão brasileira! Vani e Rui conseguem representar um casal que, de fato, é super normal. Sabe, não é aquela coisa de conto-de-fada, príncipe encantado e mocinha delicada. Existe muito mais verdade em mostrar um casal tendo uma briga homérica por uma estupidez tipo mexer no computador, do que em dois apaixonados que fogem pela floresta num cavalo branco. É ou não é?



Quem nunca, né? Mas, enfim, meu foco é na grande musa desse programa: Vanilce, ou Vani, para os íntimos. Ela é a personificação da paranoia delirante, ou seja, da mulher em si. E olha, ela não tem nada demais, se a gente for pensar, porque ela é mais magra que o normal, não tem bunda, não tem peito, não é a mulher mais linda do mundo, mas é PURO CARISMA. Lembrando do post da Maria sobre a Garota de São Paulo, Vani, apesar de carioca, é bem dessas mesmo, que fica filosófica quando faz escova no cabelo, chora pelas roupas que sacaneiam ela, e vive um eterno conflito baixo e angustiante com sua pior inimiga: ela mesma. Não é fácil ser Vani. Nunca é fácil ser a gente, né?



"Sou eu, aliada a mim mesma... contra mim! Sempre ali, me puxando o tapete, me puxando o tapete..."


Vou dizer aqui que ela é uma das poucas figuras femininas que me inspiram. Sabe, ela é a MULHER MODERNA. O que falta no peito, sobra na atitude, sem contar que ela é meio retardada e sem-noção - coisa que quase toda mulher que eu conheço também é. E ela super domina o relacionamento. Quem assiste e vê o Rui galinhando, pensa: "Gente, mais trouxa que isso, nada né?" Mas, não, ela tá bem por cima da carne seca, com ele comendo na palma de sua mão - e vira e mexe rola uns Márcios Garcia pra ela dar uns peguinhas. Nada mal, né? Eu num tô recusando.

Acho que o vídeo acima diz bem sobre ela. Bem queria eu mandar nego enfiar as coisas no rabo do cu, sambar em cima da cama, cheia de sex appeal, fazendo a Dança do Passarinho com a maior classe e compostura que eu já vi, porque afinal de contas, "a dança do passarinho não é palhaçada, é uma coisa séria, criada pra desenvolver a coordenação motora da criança".  Queria ter colhões pra pintar meu cabelo de loiro Dinamarquês e sair por aí falando pras pessoas que meu nome é Svenka ou Svunda e curtir a vida no anonimato.

O importante é que Vani carregará, pra sempre, um pouco de cada uma de nós dentro de si. E, olha, só queria dizer que Fernanda Torres - que interpreta a personagem - não deve ser nada - eu disse NADA - diferente dela. Fica a dica.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Eu e o Homem-Morcego


Inspirada pelos belos e justos escritos de Maria, acabei sendo tocada pela magia das coisas que vivem nos céus. E não, não me refiro ao Super-Homem, tampouco aos OVNIs que circundam nossa existência. Tô falando de pipa, marrecão! Taí um bagulho que marcou presença na minha infância e pré-adolescência. Eu tenho 4 primos, com quem cresci e aprendi muitas coisas - nenhuma delas foi útil de fato, mas sempre divertidas. Uma delas é empinar pipa. Embora não faça isso há anos, acho que é que nem andar de bicicleta.

Lembro de ir pra Mongaguá no verão, todos os anos, até meus doces 16 e só não via céu azul diariamente porque as pipas não deixavam. Era uma febre desgraçada, e nego correndo pra todo o lado o dia todo. Sério. Parecia arrastão em Copacabana, você via até marmanjo de 30 anos de idade dando rasteira em criancinha pra poder pegar a pipa que caía na casa da Dona Maria, na rua Novo México. A gangue do estirante não podia ver um "papagaio" - como diziam os mais velhos - caindo, sendo levado carinhosamente pelo vento para o lugar mais absurdo possível, que nego já gritava: "Tá na mão! Tá na mão!"

Um dia eu ganhei uma pipa, não sei de quem foi. Era especial, não porque era super bem colado, com as varetas mais retas do mundo, nem mesmo com uma rabiola muito chique (que nem a da foto - era bem mais da hora, preta, do mal). Na outra ponta da linha enrolada na minha lata de Nescau tava ele, o Cavaleiro das Trevas: Batman. Nunca fui uma menina muito tradicional, dessas que brinca de Barbie o dia todo, e crescendo no meio de moleque, não tinha muito mais o que fazer. Só sei que esse dia eu me senti a dona do mundo, não foi a primeira vez que eu empinei uma pipa, mas cara, ERA UMA PIPA DO BATMAN! É lógico que ela ia arrasar - e eu jurava que ela no céu ia acabar chamando ele pra mim. Sabe como é, né... sonhar não custa nada.

Dito e feito. Aquela beleza subiu, linda, absoluta no céu. E eu sozinha na rua onde eu nasci, surtando e falando comigo mesma. Fui dando linha porque eu queria que ela fosse mais longe do que qualquer outra, e também não tinha ninguém ali nem pra me cortar ou ser cortado. Era um momento só nosso, eu e Batman, Batman e eu. Tava meio nublado aquele dia e eu fiquei um bom tempo lá fora. Horas, eu acho. Não tinha muita sorte com coisas em linhas. Fiquei com trauma da vez que montei um para-quedas de barbante e saco de lixo, e usei um sapo como cobaia. Que Deus o tenha.

Esse dia eu fui punida pela minha ousadia. Queria tanto ver aquele morcego subir pra, tipo, dar um pescotapa num Ursinho Carinhoso sentado numa nuvem, que eu dei linha, dei linha, e mesmo sentindo o pipa na mão, teve uma hora que não vi mais. O cinza do céu cobriu a minha visão e eu não sabia mais onde ele tava. Comecei a recolher, e foi aí que eu percebi que tinha deixado ele solto demais. Foi embora, e eu nem dei tchau. Mesmo assim, até hoje e pra sempre, essa vai ser a história da pipa mais linda, que foi mais alto do que qualquer outra pode ter ido - ou irá. Tão alto que acabou ficando por lá talvez - como tantas outras coisas queridas. Tomei um relo do céu, do vento, sei lá do quê, e nunca mais vi meu Morcego.

Minha versão da garota de São Paulo



Luis, vem cá que eu quero contestar!

Ontem no blog do Marcelo Rubens Paiva, o mesmo publicou um excelente texto sob o título "a garota de são paulo" e gostaria de trazer aqui a minha versão, inspirada tanto em mim, quanto nas minhas colegas de faculdade.

A garota de são paulo morre de dor de cabeça. Dorme menos horas do que queria e gasta horas de mais com o que não precisa. Promete a si mesma que vai começar a dieta, mas na hora do nervoso - bala, bombom e chocolate são itens de primeira necessidade. Briga com a mãe como quem briga com o espelho, mas na metade do dia sente saudade no trabalho.

Mal vê a família, embora morem juntos. Está cansada de comer no quilo todos os dias. Passe seis meses sem ver a melhor amiga, porque o tempo voa. Só ele, pois suas asas estão aparadas. Sem tempo pra sonhar, quanto mais para voar, corre da cama pro trabalho, do trabalho pra faculdade, da faculdade pra todos os problemas que o mundo resolveu colocar no caminho. Dos problemas, ela se esconde na cama.

Queria namorar, mas adora ser solteira para poder sair quando quiser. Mas odeia ir pra balada, não tem paciência para discursos dos lelesques da vida e acha que tudo anda cult demais. Preto no branco, muita listra. Não quer namorar. Gosta de ser independente. Mentira. Mas todo mundo mente.

Nunca se resolveu tão bem com o cabelo e comprou coisas que realmente vai usar. Ri de tudo como se fosse a primeira vez. Chora de rir. Não se lembra da última vez que chorou. Pode ser que tenha sido ontem, mas ontem parece que faz tanto tempo. Isso é crescer ou é enrijecer? Não tem paciência com nada, mas com todos. É cheia de vontades, realiza uma a cada quinze dias na lua cheia. Reza nas horas de perrengue, mas seu verdadeiro altar é um copo de cerveja.

Não queimaram sutiã, mas querem ter a palavra final. E que seja um "sim", de eu aceito. Porque até hoje não encontrei nenhuma que babasse por uma criança ou não falasse em casamento. "Ok, só depois dos trinta, quando a minha carreira estiver estrutura". Sem problemas, até lá a gente continua nessa vida sem estrutura, com um vazio no peito e uma insatisfação constante. Não que todas queiram ficar com a barriga no fogão. Mas é falta de calor, do calor de se fazer o que gosta e se entregar de corpo e alma em algo que valha a pena. Qualquer coisa, que a faça levantar todos os dias com um sorriso no rosto.


É muito thanks


Xuxa, quero mandar beijo pro meu pai, pra minha mãe, pro meu irmão, pra minha avó, pra você e pra Sasha!

É muita emoção, galera. Venho aqui, em nome de todo o grupo - mais uma vez - agradecer todos os acessos e comentários no post sobre os baloeiros. Para nosso humilde blog foi audiência digna de final de novela das oito. Queria que ficasse claro que nessa altura do campeonato, em que a gente só leva patada ao mencionar a palavra TCC, contar com esse tipo de suporte é fundamental. Aliás, é de consenso geral entre nós do grupo que a nota não vale mais nada. OK, vale. A gente precisa se formar, mas no sentido de que um dez não vai nos arrasar, porque sabemos que fizemos a diferença nem que seja para pelo menos uma pessoa, que se sentiu representada só pelo fato da escolha do nosso tema.

Ou que nós mudamos a opinião de alguém. E isso é demais e realmente aconteceu. Uma amiga nossa da faculdade, após ler o post disse que mudou de opinião! Embora ela acompanhasse todo o nosso drama, confessou que concordava com a história da proibição e achava que balões matavam criancinhas. Mas, agora, após o post disse que realmente faz sentido a história da legalização, normas e etc! Isso, pelo menos pra mim, é fantástico!

O maior receio do grupo hoje é não atender as expectativas, tanto nossas, como de quem acompanha o trabalho. Pra quem não sabe, estamos fazendo um documentário com o foco na paixão dos baloeiros. Inicialmente, nossa idéia era a acompanhar a rotina de uma turma e mostrar o dia-a-dia, porém isso foi ferrenhamente barrado pela faculdade. Corremos o risco de ficar sem o tema e reformulamos. Nos comprometemos a mostrar o outro lado também, senão... nada de baloeiros pra gente. O mais engraçado é que pensamos que toda a nossa intenção iria por água abaixo, ainda mais conversando com bombeiros. Aí é quem vem a surpresa: nos bastidores, todo mundo realmente gosta de balão.

Por mais que a psicóloga tenha que exercer a posição dela e falar que um comportamento que vai de encontro com leis e convenções da sociedade seja egoísta e infantil, ela não deixou de contar pra gente - antes da gravação - o quanto ela gostava de balões e soltava quando era criança. Nossa surpresa? Chegar no corpo de bombeiros e descobrir que - todos - com quem conversamos haviam sido baloeiros e eram malucos por balões. Sim, eles falam que balão é mau e etc, mas tudo se compensa ao ouvir que eles torcem para ele encontrar maneiras de se adequar aos padrões atuais.

Agradecemos também os links enviados, sem dúvida usaremos em nossa pesquisa. Para quem pediu acesso ao TCC, ele estará pronto só em meados de novembro (se Deus quiser e ele há de querer). Aí, veremos um jeito dele chegar em todos os que se interessam. "Hey, mas a minha turma é a mais legal, ela tem que aparecer". Sem problemas! Todos os que quiserem ajudar de alguma maneira, é só mandarem fotos, vídeos, histórias, xingamentos, rezas, piadas, correntes ou power points com musiquinha e fotinho de cachorro e tudo o mais que vocês quiserem pro nosso email: historiasdecangalha@gmail.com

Se alguém quiser fazer uma participação mais efetiva ainda, nós gostaríamos de contar com colaborações. Vídeos de até 10 segundos com a resposta da seguinte pergunta: "o que é balão pra você?".
Não usaremos nomes, nem identificações. Nossa idéia era poder recolher o máximo depoimentos desse gênero, mas como somos do time dos "jornalistas zuados que ninguém curte" fica meio difícil através de redes sociais, como o Orkut. Quem não quiser mostrar o rosto, de boa. Se vira nos 30 ou a gente usa só o áudio.

Agradeço a paciência de quem leu até aqui e pra quem não leu, vai o resumo da ópera: obrigada!

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Causos da pinga

Bons dias!
Já passou das 10h30 então eu posso falar de uma coisa muito POLÊMICA: bebida.
Não me refiro à água, nem suco de tamarindo. Falo de goró, cachaça, molhar o bico, de entornar, tomar uma, molhar a guela, entre outras coisas. Por favor, amigos, não me entendam mal! Isso não é um ode ao alcoolismo, e sim uma celebração à bebida, que beleza, pode fazer muito mal - mas quando não faz, ah, é pura alegria!

Me sinto no direito de falar sobre isso porque até os meus 19 anos, eu não bebia. Nada de nada, achava que cerveja fedia ou sei lá - isso vindo de nego que já bebeu ÁGUA DE CIMENTO - e mesmo já tendo bebido alguma coisa aqui e ali, não era familiarizada com o doce sabor da desinibição. Todos diziam "espera você entrar na faculdade pra ver se não começa a beber", e eu retrucava: "Bitch, please, eu tenho personalidade!" Pois é, não tenho. Tá, personalidade eu até tenho, o que não sobrou mais é moral. No primeiro ano da Cásper eu ficava louca de Sukita - believe me, acontece até hoje -, até que comecei com uma vodkazinha aqui, tequilinha lá, até que cheguei na cerveja e, menina, o trem descarrilhou.

Não fedia, e era muito melhor e mais saudável do que a água de cimento. Juro. E mais, não só eu deixava de ser tão tímida e antissocial - coisa que sempre fui -, mas as pessoas também deixavam de ser chatas, insuportáveis, um pé-no-saco, burras e, principalmente e perigosamente, deixavam de ser tão feias. É claro que existem pessoas que não reagem bem ao álcool e acabam se exaltando, bancando o Theo Becker, querendo dar mini-voadora em todo mundo. Mas esses daí a gente espera desmaiar de sono, desenha um pinto na cara, tira umas fotos, ameaça botar na internet e nego fica pianinho - aliás, acho que esse é o melhor tipo de "rehab", porque o medo de que acontece de novo, faz a galera ficar na seca por livre e espontânea vontade.



Aliás, vou dizer que a melhor parte da bebida é o que ela faz as pessoas fazerem. Sério, posso dizer com certeza absoluta que algumas das histórias mais memoráveis da minha vida aconteceram quando havia pessoas bêbadas envolvidas, tanto eu quanto os meus amigos. Não vou nem começar pelo número de caridades que a gente faz quando bebe. Já vi amigo meu pegar menina tão feia, que se tivesse montado num cavalo e com uma espada na mão, galera ia achar que era São Jorge. Sob o efeito de bebidas especiais, já tive aulas sobre retórica num vagão de metrô da Linha Vermelha; fui derrubada por um cara de 30kg em plena Vila Madalena; ouvi nego fazer declaração de amor pra privada; galera mostrando a nova prótese de silicone pro pessoal; já discuti praticamente o sentido da vida, EM INGLÊS, depois de beber uma tequila de 8 reais; já fiquei rica, corri atrás de fusca, falei pras pessoas que as amava, já briguei, brigaram comigo; caí da escada uma vez na balada - mas essa foi porque eu sou burra mesmo.

Curiosamente, eu não me lembro de muitas das vezes em que alguma coisa aconteceu, mas o dia seguinte é sempre interessante. Eu, por exemplo, jamais volto pra casa sem algum tipo de "souvenir", seja um objeto, tipo maracas, um boneco do Shrek, um hematoma, um chapéu, enfim. Muitas vezes, vocês está lá deitado, prometendo para todos os santos que NUNCA MAIS VAI BEBER, e flashes da noite anterior passam pela sua cabeça: você no banheiro com pessoas, momentos de puro embaraço, aquela merda que você disse, aquela polêmica que viu nego criando, e todas as outras histórias sempre sensacionais que escuta. Ai, gente, no fim das contas é um sofrimento, mas que vale muito a pena depois, além de dar pano pra manga.

Bem sábio aquele que um dia disse que "quem não bebe, não tem história". Luiz, deixa a minha pra amanhã, porque é sexta-feira, dia de "receber o Brad Pitt".


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Dá série: preconceito ou como falar sobre o que não se sabe



Luís, vem que eu to puta e quero um goró dos bons!

Há mais de um ano não passa um dia que eu não pense em balão. Não porque eu curta ser uma "criminosa" como muita gente gosta de dizer por aí, mas porque foi esse o tema escolhido pro nosso TCC. Tudo começou numa conversa despretensiosa a bordo do bom e velho Ana Rosa rumo a nossa querida Casperê Liberando. Yo e Carolis falávamos sobre possíveis temas e (en) calhamos nos balões. Ganhamos mais dois companheiros de empreitada e seguimos literalmente estrada a fora de olho no céu.

Meu pai foi baloeiro, bem antes de eu nascer, e por isso eu cresci ouvindo histórias de balão. Nada de queimadas, bandidagem, vagabundice e outros adjetivos que costumam acompanhar o tema. Balão é perigoso? É, mas pra quem não sabe soltar, é irresponsável e etc. Tem mil poréns, mil mas e entretantos e portantos nessa história que não vem ao caso. É uma lei que proíbe pela hipótese! Claro, vou lá sair prendendo um monte de gente que eu acho que tem perfil de assassino, só para garantir. Não abrirei espaço para discussões e regulamentações.

Cansei de ouvir que é crime, que não presta, que isso e aquilo. Porra! É foda. Incrível como tem gente que adora abrir a boca pra falar o que não sabe! As pessoas não tem um pingo de conhecimento e partem de um senso comum de araque, do que elas veem na mídia e querem opinar ou, na grande maioria das vezes, só destratar e xingar. Nunca sofri tanto preconceito por causa de uma opinião - e olha que nem balão eu faço. Tudo isso apenas por compartilhar uma teoria diferente da grande maioria: balão não é bandido! Balão não mata gente, não derruba avião, não estupra criancinha e não vende droga.

Parece que ninguém mais se lembra que nos anos 70/80 soltar balões era uma atividade comum. Ser baloeiro era um status e a festa junina era uma das épocas mais esperadas pelo ano. Os bairros viviam em comunidade, se juntavam nas ruas para ver eles subirem. Havia festivais, turmas e mais turma, que hoje tiveram que cair no anonimato. O Brasil é referência mundial no assunto, mas aqui é proibido. Enquanto em outros países, os chamados desenvolvidos, como Itália e França, não são apenas legalizados, como contratam brasileiros para produzir e soltar balões em seus países. O México é outro exemplo: grandes prêmios em dinheiro são oferecidos em festivais de balão! É uma arte milenar e apreciada, mas - como sempre - não sabemos valorizar o que temos de melhor aqui.

Nos últimos meses eu só conheci pessoas completamente apaixonadas por uma arte proibida. O maior gosto delas é colar papel, desenhar, pensar num projeto e sonhar de olhos abertos olhando pro céu. É clichê? Pra caralho! Mas quem se importa? O cara tem um sonho, uma admiração... Uma paixão! E é o tipo de coisa que não tem razão ou explicação. Você gosta e ponto final. E é complicado você viver na clandestinidade porque uma lei idiota e uma sociedade preconceituosa não enxerga que há possibilidades pra tudo.

Quantas pessoas morrem no trânsito POR DIA? Eu não vou pesquisar estatísticas, mas eu poderia afirmar que com certeza é mais de uma. E o balão, quantas pessoas ele mata? Ah, ok... é um crime ambiental. Qual o problema em legalizar, estabelecer normas e padrões, avaliar locais para soltura e identificar turmas? Assim os responsáveis serão punidos e todo mundo fica feliz! É de uma hipocrisia sem fim todos os anos ver decorações de festa junina com balõezinhos, crianças na escola aprendendo a desenhar eles e nos céus serem proibidos!

Balão é uma arte, é uma tradição familiar e é triste ver isso sendo jogado no lixo por um bando de desinformados. É incrível você ir todos os dias para uma faculdade de jornalismo, durante quatro anos, onde a Santa Liberdade de Expressão senta seu traseiro gordo no altar da charlatanice cultuado por alguns professores. Esses, um ou dois, que eu apontaria como as pessoas mais babacas que eu encontrei na vida. Gente que se diz jornalista, mas não checa um fato antes de abrir a boca imunda pra falar da atividade alheia. Não sabe que balão nunca derrubou avião. Aliás, se for comparar, quantas pessoas o tal "meio de transporte mais seguro do mundo" não matou em acidentes? Ah, foram exceções! Ué, balão que pega fogo também é exceção... nem por isso vi geral querendo proibir aviões de voar.

Cem por cento dos baloeiros que eu conheci soltam balões porque eles amam a sua arte, não para enfrentar uma lei capenga ou a sociedade. Mas, para enfeitar o céu com o que eles chamam de sonho, magia, fantasia e felicidade. Assim como eu e meu grupo falamos de balões não porque é a nossa arte. Mas, pelo prazer de calar a boca de todos os preconceituosos que encontramos e continuaremos a encontrar pelo caminho.

Obs: A vida como ela é: tive que jogar "balão probido" na busca do google para encontrar alguma imagem.